«A CRIANÇA QUE NÃO QUERIA FALAR»
Torey Hayden
Editorial Presença
Torey Hayden
Editorial Presença
«- Estamos em Maio, Sheil. O ano escolar terminará dentro de algumas semanas. Acho que é tempo de pensar no próximo ano.
- No próximo ano vou estar aqui.
Senti um aperto no coração.
- Não, não vais - murmurei.
- Ai isso é que vou! - Explodiu com um olhar fulminante.
- Serei a miúda mais má de todo o mundo. Farei coisas horríveis para que te obriguem a ficares comigo. Não te deixarão mandares-me para outro lado.
- Oh, Sheil! - supliquei.
- Não irei para mais lado nenhum. Serei má outra vez.
- Não é o que estás a pensar, miúda. Não estou a querer livrar-me de ti. Meu Deus, Sheila. Ouve o que te digo, sim?
Ela tapara os ouvidos com as mãos. Ergueu os olhos furiosos na minha direcção. Furiosos e magoados, com o antigo brilho de vingança.
-No próximo ano não haverá esta aula - declarei tão baixinho, que as palavras eram quase inaudíveis.
Contudo, ela ouvira por entre os dedos.
Como uma vaga, a expressão do rosto transformou-se e baixou as mãos. A cólera desapareceu, cedendo lugar à palidez.
- O que queres dizer? Para onde é que ela vai?
- Não haverá esta aula. As autoridades decidiram que já não precisam dela. Cada um de vocês pode ir para outra aula.
- Não precisam dela? - gritou. - É claro que precisam. Eu preciso. Eu ainda sou maluca. Preciso de uma aula de malucos, E o Peter também. E o Max. E a Susie. Somos todos malucos.
- Não, Sheil, não és. E acho que nunca o foste. De qualquer maneira, já não és. Chegou a altura de deixares de pensar que és.
- Então, serei. Vou fazer outra vez montes de maldades. Não vou para nenhum lado.
- Sheil. Eu também não estarei aqui.
O rosto petrificou-se-Ihe.
- Mudo-me em Junho. Depois do final da escola, vou-me embora. Tenho muita dificuldade em dizer-te isto, porque sei que nos tornámos grandes amigas. Contudo, chegou a altura. Não gosto menos de ti e não me vou embora por nada que fizeste ou não fizeste. A minha decisão nada tem que ver contigo. É uma decisão de pessoa crescida.
Ela continuou a fitar-me, com os cotovelos apoiados na mesa, as mãos entrelaçadas, o queixo apoiado nos punhos. Os olhos azuis translúcidos perscrutavam-me sem ver.
- Tudo tem um fim, Sheil. Sou professora e o meu trabalho acaba em Junho. Passámos momentos fantásticos, tu e eu, e não os esqueceria por nada deste mundo. Mudaste tanto. E eu também, sabes? Crescemos juntas e agora chegou o momento de ver como conseguimos desembaraçar-nos. Acho que estamos prontas. Tu também. Penso que és capaz de lançar-te à aventura. Tens força bastante.»
- No próximo ano vou estar aqui.
Senti um aperto no coração.
- Não, não vais - murmurei.
- Ai isso é que vou! - Explodiu com um olhar fulminante.
- Serei a miúda mais má de todo o mundo. Farei coisas horríveis para que te obriguem a ficares comigo. Não te deixarão mandares-me para outro lado.
- Oh, Sheil! - supliquei.
- Não irei para mais lado nenhum. Serei má outra vez.
- Não é o que estás a pensar, miúda. Não estou a querer livrar-me de ti. Meu Deus, Sheila. Ouve o que te digo, sim?
Ela tapara os ouvidos com as mãos. Ergueu os olhos furiosos na minha direcção. Furiosos e magoados, com o antigo brilho de vingança.
-No próximo ano não haverá esta aula - declarei tão baixinho, que as palavras eram quase inaudíveis.
Contudo, ela ouvira por entre os dedos.
Como uma vaga, a expressão do rosto transformou-se e baixou as mãos. A cólera desapareceu, cedendo lugar à palidez.
- O que queres dizer? Para onde é que ela vai?
- Não haverá esta aula. As autoridades decidiram que já não precisam dela. Cada um de vocês pode ir para outra aula.
- Não precisam dela? - gritou. - É claro que precisam. Eu preciso. Eu ainda sou maluca. Preciso de uma aula de malucos, E o Peter também. E o Max. E a Susie. Somos todos malucos.
- Não, Sheil, não és. E acho que nunca o foste. De qualquer maneira, já não és. Chegou a altura de deixares de pensar que és.
- Então, serei. Vou fazer outra vez montes de maldades. Não vou para nenhum lado.
- Sheil. Eu também não estarei aqui.
O rosto petrificou-se-Ihe.
- Mudo-me em Junho. Depois do final da escola, vou-me embora. Tenho muita dificuldade em dizer-te isto, porque sei que nos tornámos grandes amigas. Contudo, chegou a altura. Não gosto menos de ti e não me vou embora por nada que fizeste ou não fizeste. A minha decisão nada tem que ver contigo. É uma decisão de pessoa crescida.
Ela continuou a fitar-me, com os cotovelos apoiados na mesa, as mãos entrelaçadas, o queixo apoiado nos punhos. Os olhos azuis translúcidos perscrutavam-me sem ver.
- Tudo tem um fim, Sheil. Sou professora e o meu trabalho acaba em Junho. Passámos momentos fantásticos, tu e eu, e não os esqueceria por nada deste mundo. Mudaste tanto. E eu também, sabes? Crescemos juntas e agora chegou o momento de ver como conseguimos desembaraçar-nos. Acho que estamos prontas. Tu também. Penso que és capaz de lançar-te à aventura. Tens força bastante.»
LP
4 comentários:
O ultimo parágrafo faz me lembrar algo... O que será?! :P
Txiii... Porque será que este excerto é me tão familiar?! Não é por ter lido o livro. É por me identificar com o que Sheil sentiu. Tudo isto foi tão bom, porque é que não pode continuar assim para sempre? Porque é que a vida tem de avançar e modificar-se. Porquê crescer?!
Crescemos juntos e agora chegou o momento de ver como conseguimos desembaraçar-nos. Acho que estamos prontos. Penso que és capaz de lançar-te à aventura. Tens força bastante.
Todos os que estão longe, arranjaram forças, apesar de custar e todos os dias pensarem naquilo que viveram no passado. Temos de viver a aventura, de conhecer coisas novas. Tal como o fizémos há 3 anos atrás, quando ainda mal nos conhecíamos.
Porque afinal de contas, o futuro, pode reservar-nos algo ainda melhor.
Por isso sim! se crescer me vai trazer, novos sentimentos, novas sensações, quero-o! exijo crescer.
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