E foi quando me apercebi do fim de nós, dos momentos nossos, que tive consciência que nada ficava por ali. Porque vos transformei a vocês pessoas comuns aos olhos de quem não vos conhece, em pessoas sobrenaturais, com a capacidade de me fazer rir e chorar, a capacidade de olhar-vos nos olhos e chamar-vos de amigos, dos verdadeiros, de irmãos, de cúmplices. E sei que desenhando e tornando a desenhar os vossos rostos com palavras de segurança, de saudade, de consciência, de vida, colorindo e iluminando a monotonia de um quotidiano baço, sem qualqer cor e sem horizontes, sei que jamais vos esquecerei. Irei recriando à vossa imagem e semelhança a maneira como verei o mundo e o céu longe de vocês. Terei a mesma atitude de espírito, que depois de vos ter evocado me dará forças para seguir em frente e ser feliz, levando-vos, a vocês e a todos os pedaçoes de memória que em mim permanecerão, para todo o sempre.

Agora estamos ali, uns ao pé dos outros, esquecendo rivalidades e conjuntos, lembrando apenas o que nos une, a ligação que temos pelo grupo, pelo professor. Uns de pé, outros sentados, belos e jovens, chorões e angustiados, de frente para a fotografia, mostrando no rosto uma expressão de solene gravidade que é talvez receio perante a câmara, no instante em que a objectiva se fixa. A imagem que nunca mais tornarão a ter, porque o mesmo dia não se repete e o dia seguinte será inevitavelmente outro dia.

E pensava eu que nada precisaria de explicar para que se soubesse de que materiais se faz a pessoa que me ensinaram a ser e esta que me tornei, moldada pelas pessoas que mais perto de mim estiveram e mais valores me ensinaram. Mas estava enganada, todos os dias consigo reconhecer e acrescentar mais um pormenor do passo que demos juntos, no bom e nos menos bom, no bastante e no insuficiente, no ganho e na perda, acabei por fazer de mim a pessoa que me reconheço. Sem vocês não poderia ser a pessoa que hoje sou, sem vocês talvez a minha vida não passasse dum esboço inacabado e impreciso, uma promessa como tantas outras que de promessa não conseguiram passar, a existência de alguém que poderia ter sido e não chegou a ser.


E dirijo-me a vocês, modeladores daquilo que sou, enriquecedores da minha alma, companheiros para a vida, que tudo teria sido tão mais duro caso não tivessem existido e cruzado o meu caminho. E acredito que ficarão para sempre, parceiros desta passagem pela vida. E sei que aquilo em que acredito, não é só mais um devaneio iludido, nem um grito desesperado.



São momentos que ficam! Obrigado.

cristiana